quinta-feira, 31 de agosto de 2023
A CORREÇÃO FRATERNA Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Entre as normas sobre a correção fraterna (Mt 18, 15-20) Jesus assim se expressou: “Se teu irmão cometer alguma falta contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele. Se te ouvir, terás ganho o teu irmão”. Fez uma promessa admirável: “Ademais em verdade vos digo que se dois de vós sobre a terra concordarem acerca de qualquer coisa que tiverem a pedir, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Como bem se expressou São João “Deus é amor” (1 Jo 4,8). São Paulo mostrou que o cumprimento perfeito da lei é este amor”. Eis porque se deve corrigir os que erram e rezar sempre também comunitariamente. Trata-se de procurar o cumprimento perfeito da vida espiritual, da participação total no mistério de Deus imergido na sua dileção divina. Quando se percorre o Antigo e o Novo Testamentos se percebe que o Senhor se revela sempre como o amor, desejando fazer aliança com os homens para os envolver na sua ternura. Tudo isto porque a afeição divina se concretiza no seu desejo de oferecer a todos a salvação, abrindo-lhes as portas do paraíso. Cumpre corresponder aos desígnios divinos, amando-O e aos outros, entrando assim no seu projeto de salvação e comunhão na vida divina. Muito frequentemente se entende o amor exclusivamente no domínio da afetividade, mas é preciso ultrapassar os sentimentos e o manifestar concretamente em obras de conversão do próximo, visando sempre sua salvação eterna e a observância dos sagrados mandamentos de sua Lei. Amar para Deus significa querer e agir no interesse dos irmãos, porque Deus quer o bem de todos, sua felicidade e a conquista de um lugar lá no céu. Amar para Deus é salvar! Crescer sempre no amor a Deus e no amor fraternal, tomando consciência de seu apelo à vida divina e de seu desejo de que todos dela participem. Eis porque o verdadeiro amor pelos nossos irmãos nos leva a uma corresponsabilidade para seu bem, o que se manifesta pelo interesse pelos outros e pela prece em comum que nos conduz ao cerne do amor verdadeiro que é Deus. Assim sendo, amar à maneira de Deus não se dá certamente no fato de não ter sentimentos por tal ou tal pessoa. O amor se verifica numa vontade traduzida em obra para o bem, a felicidade, o interesse vital do próximo. Trata-se do que São João da Cruz chama união das vontades, para que Deus esteja, de fato, junto de nós no momento de nossas preces comunitárias. Nós nos amamos não para partilhar narcisamente belos sentimentos, mas para crescermos juntos no amor verdadeiro. Portanto, a nossa corresponsabilidade e nossa solidariedade na marcha para nossa salvação e na do próximo necessita de uma profunda atitude teológica que vai acima de qualquer sentimento humano. Ter sempre em mente o bem de nossos irmãos, empenhando-nos para seu bem, sua salvação sem querer manipular os outros. É assim que se deve viver a correção fraterna. Nunca se deve esquecer que as faltas alheias dependem da natureza do ato cometido, da consciência e da intenção daquele que as comete. Eis porque é preciso entrar em diálogo com quem erra para saber suas intenções, a maneira como viveu os acontecimentos, antes e o acusar. Não se deve julgar os outros com base na própria subjetividade. Ninguém deve se julgar proprietário da verdade. Deve-se, portanto, por isto mesmo, se pedir as luzes divinas. Tudo isto se aplica no relacionamento dos irmãos da mesma fé, nos diversos grupos paroquiais, nas comunidades nas quais se exerce alguma atividade de apostolado, nos locais de trabalho, tendo sempre em vista que cada um de seus membros são filhos de Deus, capazes de acolher a luz divina e de entender suas inspirações. Em tudo se deve ser um caminho para o amor a Deus. A correção fraterna é uma prática que não é fácil e demanda discrição, paciência, para que se evitem julgamentos apressados, mas que se impeça sempre comportamentos errôneos que podem escandalizar. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 19 de agosto de 2023
FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU:
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Duas mulheres se saúdam no limiar da Nova A:liança: uma já idosa, a outra ainda muito jovem. Elas resumem toda a história santa. Com efeito, em Isabel se perfilam longos anos de preparação e Maria, fulgurante, sem mancha, anuncia a Igreja de Jesus (Lc 1,39-56). Elas têm em comum sua esperança e sua maternidade, mas sobretudo o fato que sua maternidade as introduzem no plano de Deus e que seus filhos são filhos do impossível, pois Isabel era estéril e Maria havia decidido ficar virgem. Ambas testemunham em sua carne que nada é impossível para Deus, mas que diferença entre as duas crianças que elas trazem no seu ventre! Uma por milagre é o filho de Zacarias, a outra, também miraculosamente, é o próprio Filho de Deus. É entretanto Maria que saúda, primeiramente, ela a serva que trazia em si o Servidor. Entretanto desde que o som de sua voz chegou a Isabel, ela sente seu menino estremecer no seu seio. Não há em si nada de extraordinário para uma mãe que está no seu sexto mês de gravidez, mas o Espírito Santo que faz irrupção nela lhe revela o simbolismo deste movimento do menino no momento mesmo da chegada de Maria. Isabel, num grande brado, anuncia que o Espírito vem de lhe revelar e sua exclamação é uma dupla bênção: “Bendita és tu entre as mulheres. Bendito é o fruto de teu ventre!” Ela compreendeu numa revelação repentina, o tempo de um brado. Imediatamente ela se situa no seu verdadeiro lugar, a mais velha, se apequena diante da jovem mãe do Messias: “Como me é dado que venha mim a Mãe de meu Senhor?” Ela ajunta em seguida:” Meu Filho compreendeu antes de mim, pois que em mim, ele exultou de alegria quando tu te aproximaste portadora do Messias”. Assim o face a face das duas mães não mencionou senão o encontro invisível das duas crianças. Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rainha e João desperta sua mãe para o acolhimento do mistério das obras de Deus. Para anunciar ao mundo que a desgraça de Eva estava para sempre riscada da memória, o Espírito Santo quis que o primeiro diálogo a esperança do mundo fosse aquele de duas mães grávidas, imagens perfeitas da espera da felicidade. É sobre esta nota de felicidade que acaba a saudação de Isabel:” Bem-aventurada aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”. A beatitude de Maria se enraíza na fé em Jesus, ele mesmo, a proclamará solenemente no dia em que uma mulher na multidão, elevará a voz para lhe dizer: “Ditosa a mulher que te trouxe e alimentou”. Jesus responderá apresentando a nuança essencial: “Tu queres dizer: a mulher que acolhe a palavra e que a guarda”! É a felicidade de todos aqueles que edificaram sua vida sobre a promessa de Deus. Todos nós temos necessidade que a Igreja nos traga esta certeza: haverá um cumprimento daquilo que foi dito da parte do Senhor e Cristo, invisivelmente, está em vias de crescer no mundo, na nossa comunidade. Tudo se cumprirá segundo a promessa: Cristo veio, Ele vem e Ele virá. Veio na humildade, vem na intimidade e pela Eucaristia, Ele virá na imensa claridade de sua glória. Mas porquê a fé é difícil, porque a esperança ecoa mui rapidamente em nosso coração, Maria hoje vem nos visitar da parte de Deus para nos redizer: “Tu não sabes como o Senhor está próximo?” Cabe a nós saber captar o que Deus faz. A nós cabe redizer a surpresa de Isabel: “Donde me vem esta felicidade que venha a mim a Mãe de meu Senhor”! Também cumpre compreender quantos mistérios Maria trouxe em seu coração. Nenhum porém, a revoltou nem a afastou de Deus. Cumpre então a cada um de nós meditar, orar, se abandonar nas mão de seu Senhor. Avida de Maria é uma vida de fé e de confiança na Palavra de Deus, uma vida de esperança na vitória do Amor sobre o mal, uma vida de caridade na qual o amor comandava todas as suas ações como no dia de sua visita a Isabel. Foi assim que os “sim” sucessivos de Maria mudaram o curso da humanidade. Maria soube sabiamente responder aos mistérios do Reino de Deus. Acolhendo sem reserva a vontade do Pai, Ela refletiu a glória de Deus, mas de maneira tão discreta que podíamos passar sem captar isto. A glória de Deus se manifestava de maneira extraordinária nela, em sua alma e em seu corpo. Devemos pedir sempre a ela que nos ajude a perceber os mistérios do Reino celeste. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 3 de agosto de 2023
A Transfiguração de Jesus
A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Esta pagina do Evangelho é rica de alegorias (Mt 17,1-9). Jesus toma consigo três dos quatro primeiros apóstolos que Ele havia chamado. Com Ele transfigurado estavam Moisés e Elias dois personagens do Antigo Testamento, que haviam a bastante tempo morrido e se pode então bem compreender o espanto dos discípulos ao vê-los. Moisés representa a Lei que recebeu de Deus na montanha e Elias, o Profeta, estava ali figurando todos os profetas que Deus havia suscitado. Era um momento de silêncio, pois estavam no alto de um monte longe de qualquer tumulto. Por isto, Jesus havia tomado à parte aqueles três discípulos. Quantas vezes gostaríamos de estar num lugar silencioso, longe do bulício dos homens para entrar numa intimidade amorosa com Jesus, divino e eterno amor! Entretanto Jesus quer sempre se revelar a cada um de nós numa verdadeira identidade, pura e longe de falsas imagens apresentadas pelo mundo trepidante de ilusões. Entretanato, o que é preciso é deixar que Ele conduza cada um de nós para estes momentos de tertúlia celestial, isentos da agitação que nos cerca. Cumpre, porém, se dispor a escutar também Moisés a lembrar que se deve seguir sempre os dez sagrados mandamentos, para viver através deles a freternidade, assimilando os designios divinos.Pedro extasiado ante a maravilhosa visão pede para que se prolongue sua duração e solicita ao Mestre que lhe pemita erguer aí três tnedas, como era costume fazer para a festa dos Tabernáclos, com ramos de árvores. Os discípulos deveriam fixar a ordem do Pai: “Este é o meu Filho amado, no qual ponho minhas complacências. Ouvi-o.”. É deste modo que se deve viver o mistério da transfiguração. Não é só ver Jesus, mas fazer decorrer a vida com Ele. Vê-lo no cotidiano em cada um dos irmãos e nos providencias acontecimentos do dia a dia, deixando Cristo trnafigurar nossas vidas. Ele deve ser sempre nosso refúgio, nosso libertador, nossa fortaleza, nosso escudo, nele sermpre confiando. A transfiguração foi um momento inefável repleto de preciosas mensagens. Jesus deu esta ordem aos três apóstolos: “Não faleis a ninguém desta visão”. Por que Jesus impôs o silêcio a seus discípulos? É daí que vem a questão do segredo messiânico. A fé é bem aquela concernente a Cristo morto e ressuscitado, não apaenas aquela naquele que fazia coisas extraordinárias, milagres ou discursos atraentes. Jesus desejou firmar bem a fé daqueles discípulos já que depois Elle estaria morto no alto de uma cruz. A transfiguracião é uma profecia, uma antecipação do corpo glorioso de Jesus e também da esperança do que vai ocorrer com nosso corpo, se formos fiéis a Deus. Os três discípulos são os mesmo que estarão presentes no Horto das Oliveiras. Lá também se entregarão ao sono. Sono diante do espetáculo da glória final como diante do espetáculo da agonia de Cristo. Pobre humanidade. No Tabor eles são testemunhas da glorificação do Mestre divino. Esta transfiguração é para nós fanal de esperança. Nós sairemos um dia do combate dos males para contemplarmos eternamente Jesus em sua glória. Pedro já queria se instalar ante Jesus glorificado, encontrando nisto uma grande alegria. Cumpria, porém, descer da montanha e se colocar na rota para Jerusalém a cidade que veria Jesus crucificado, morto e sepultado. Grande ensinamento para nós, porque é preciso passar pelas agruras terrenas num combate espiritual constante até se chegar à glória eterna. A ordem do Pai foi clara, ou seja, é preciso sempre escutar Jesus No meio das incertezas da vida nesse mundo é preciso nos inebriarmos da expectativa que se irradia na cena da transfiguração. Até o dia de sua ressurreição Jesus pediu silêncio aos três apóstolos o que se chamou de segredo messiânico. Trata-se de fe concernente a Cristo morto e ressuscitado e não apenas a fé que provinha de fatos extraordinários, dos discurso atrativos. O Pai proclama solenemente que Jesus era o Filho bem amado e isto deve estar bem fixado no íntimo de nosso ser, no espírito do seu Seguidor. Jesus é o Senhor. É a âncora, a luz, o farol de todo cristâo. Nossa confiança em Jesus é combatida obstinadamente pelo demônio, porque ela é a vida, a salvação. À obstinação de Satã saibamos opor sempre a obstinação de nossa ilimitada confiançe em Cristo. .Assim seremos salvos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 20 de julho de 2023
28 O JOIO E O TRIGO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Há joio no campo do Senhor. Não foi Jesus que o semeou, porque Ele, o Filho de Deus, veio para unicamente semear a Palavra do Reino de divino e Ele explicou que foi um inimigo que fez isto. Isto foi obra do maligno que é astucioso, insidioso. É que os trabalhadores dormiam. Eles tinham motivo para repousar, mas deveriam ter estabelecido um sábio revezamento, para uma vigilância possível. Esta precaução era necessária dado que o mal é rápido quando se trata de o semear. Jesus sublinhou igualmente que o inimigo semeou o joio no meio do trigo e desapareceu, sabendo bem que seu mau grão cresceria sem ele, graças à boa terra preparada para o bom grão. O inconveniente com a má erva era que com o passar dos dias ela semelharia com o bom trigo e era impossível reconhecer o joio com certeza absoluta. Do mesmo modo na terra de nosso coração, quando nós deixamos o inimigo semear seus grãos de desgraça, como a desunião, o egoísmo ou a tristeza e outros males. É após um certo tempo que se constata o desastre e se lamenta que “meu campo está cheio de joio; meu coração que quer ser fiel a Jesus, se encontra dividido e apresenta simultaneamente frutos para a vida e germes de morte”. Então qual é o remédio? Os servidores na parábola vão então até o mestre do campo, com toda sua boa vontade, mas também com ilusões, e dizem “Quereis que nós vamos arrancar o joio”? É que este joio já havia produzido seus espinhos e já se podia reconhecê-lo. Diz o proprietário: “isto não, porque arrancando o joio se poderia arrancar o trigo com ele”. É lamentável que se encontre joio no nosso coração, nos grupos cristãos, nas nossas comunidades, mas o que é preciso é salvar antes de tudo e sobretudo o trigo que vai alimentar os homens, o crescimento do Evangelho em nossa vida, a expansão missionária da Igreja onde todos os povos encontrarão a salvação. Se para eliminar o joio é preciso arrancar o bom grão, melhor é ter paciência até a colheita; se para extirpar o mal é necessário comprometer os frutos do bem, melhor é deixar Deus fazer a triagem na Sua hora, Ele eu tudo conhece. “Deixai uma e outra semente crescer até a colheita”, diz Jesus. Poderia isto ser julgado uma atitude incoerente, tal o desejo de se viver num mundo puro, numa Igreja unida, numa comunidade ardente e unanime, Entretanto, é Jesus que tem razão. Isto porque Deus, sendo paciente até o julgamento, paciente com cada um de nós, sem destruir em nós as forças de vida para arrancar imediatamente o mal de nosso coração, Ele nos concede o tempo da conversão. Deus se reserva o julgamento, que Jesus descreve frequentemente no Evangelho como um momento da verdade, quando será revelado o íntimo dos corações e o valor real de cada existência. Deixemos a Deus a última palavra e guardemos a paz. O mal não ganhará nunca, nem no nosso coração, nem no mundo, se nós entregamos tudo a Deus. Jesus disse: “Tende confiança eu venci o mundo”” (Jo 16,33). O joio cresce e é frequentemente um escândalo, mas nós não temos para o combater em nós e em redor de nós, senão as armas do Evangelho, os instrumentos do grande Semeador. Jesus se estregou por causa de nossos pecados. Para impedir a expansão do joio no campo do mundo, Ele ofereceu a Deus sua vida dada aos homens e sua obediência. Ele semeia para o seu celeiro eterno a Palavra que salva, ilumina e é perene A semente boa é a palavra de Deus transmitida pelo sacerdote quando fala em nome de Cristo na cátedra sagrada, no confessionário ou nos instantes de aconselhamento espiritual. Nestes momentos Cristo se torna a luz para as inteligências, Ele que na Eucaristia é o alimento das almas. Esta palavra está contida na Bíblia Sagrada, a carta magna do Criador aos homens. Aí Deus diz ao ser racional quem Ele é e o que espera de cada um. É o grande dom divino de valor inestimável. A leitura assídua da Bíblia orienta, modifica o coração, esclarece a inteligência, sustenta toda vida do cristão. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
AÇÕES ADMIRÁVEIS DE JESUS (MC 1, 29-39
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma atividade admirável de Jesus no serviço dos doentes e possuídos do demônio, depois uma longa e ardente prece individual, Eis aí o ritmo do Filho de Deus. É assim que Ele vive intensamente sua união com o Pai que o enviou e sua solidariedade com os homens que Ele veio salvar, Autenticamente homem quando está só diante de Deus, realmente Filho de Deus quando se mistura na multidão dos homens. Em tudo semelhante a seus irmãos e, ao mesmo tempo, acreditado junto de Deus” (Hb2,1). É o mesmo Jesus de Nazaré que se retira muito cedo bem e pela manhã num lugar deserto ao despertar da aurora, para acolher voltado para Deus, a luz de um novo dia, e que amplia cada dia o campo de sua missão e de seu testemunho: “Vamos a outros lugares para que lá também se dê o anúncio da mensagem!”. É porque se entrega totalmente ao Pai na sua prece silenciosa que Jesus se deixa levar por todos aqueles e aquelas que O procuram. É porque Ele vive no Pai que Ele pode sem interrupção ir a outros lugares cada dia. Na medida em que cresce nossa união com Cristo vivo é que Ele remodela nossa vida e nosso coração. segundo esta dupla comunhão que Ele possui, a expressão espontânea de seu ser de mediador com o Pai e a comunhão com os irmãos. Cada dia Ele nos mostra o Pai e nos manifesta seu Nome e seguindo-O entramos numa verdadeira prece filial, mãos abertas e o coração livre. Cada dia também ele nos desperta para o bem universal, segundo seu próprio cuidado da salvação dos homens. Na paz de Deus, no rumor do mundo nossa solidão como aquela de Cristo é solidão sonora, tudo em eco do silêncio de Deus, tudo isto em ressonância do mundo a salvar, É o mesmo Espírito que nos faz, a todo instante, que nos lancemos em prece e que reanima a chama dos carismas de nossa crisma, nos dando crescer como filhos e filhas da Igreja. Ligeiro, secreto, discreto é o apelo do Espírito. que nos identifica com Cristo orante e missionário. É a voz de um silencio mantido como aquele que percebeu Elias no Horeb, antes que Deus o enviasse à história dos homens, história da salvação, no trabalho da redenção, “Vamos a outros lugares” diz Jesus. É isto que cada um ouve cada dia no fundo de sua fé em Cristo. Vamos a outros lugares não sozinhos, pelo caminho do sonho, porque outros lugares são frequentemente uma tentação, mas outros lugares com Jesus, por toda parte onde Jesus vai para salvar numa missão universal que tem lugar por uma vida toda entregue ao Amor, nada apenas só para hoje. A cena começa na casa de sogra de Simão que está prisioneira por uma febre, A cena se estende a toda a cidade, ao deserto, às aldeias vizinhas e, finalmente a toda a Galileia. Jesus é aquele que sai, sai da sinagoga de Cafarnaum, depois sai da cidade para ir ao deserto, faz sair a febre da sogra de Simão, faz sair os doentes de suas casas e os espíritos maus desta humanidade da qual Ele revestiu a carne. Jesus que saiu de Deus nos convida a nos levantar e sair para irmos a outros lugares, a sairmos de nossas pequenas enfermidades, da doença de nossas ideias preconcebidas, de nosso pequeno mundo tão fechado. É por listo que Ele saiu para ir aos povoados vizinhos, para outras pessoas, para aqueles que estão longe, que se fecham, que estão na periferia de nossas cidades, de nossa sociedade, de nossa comunidade Tratasse da expansão espiritual, vamos com Ele, saímos de nossos círculos estreitos, levantemo-nos e partamos daqui para testemunhar ao mundo a imensa ternura de nosso Deus e sua compaixão por todos. Deus é maior do que nossas misérias, do que nossas fraquezas Com Ele tudo se pode. Jesus afirmará que sem Ele nada podemos fazer, o que significa que com Ele tudo é possível. A doença, o sofrimento e a alienação são males que entravam nossa humanidade, como acontecia com a sogra de Simão. Jesus nos convida a vencermos os males corporais e a entrar na alegria do bem que Ele nos pode fazer. A partir dos sinais que Ele nos oferece com sua presença, com sua sabedoria, com a onipotência de sua salvação Ele nos quer como mensageiros de sua redenção. Ele quer nos cobrir com seus dons para recebermos suas graças salvíficas, sendo por toda parte testemunhas das Boa Nova que Ele veio trazer a este mundo. Portanto, repleto de ensinamentos esta passagem de São Marcos, inoculando-nos tão preciosas mensagens que cumpre sejam vividas intensamente na nossa vida diária. Estendendo, assim, por toda parte os benefícios de Deus. Apalavra divina pregada onde estamos, mas também por toda parte tanto quanto nos é possível. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 3 de julho de 2023
O SEMEADOR SAIU A SEMEAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O semeador saiu para lançar a semente. O semeador é Jesus, a semente é sua palavra, seu Evangelho e a terra que recebe esta semente é coração do homem, o coração de cada um de nós. (Mt 13,1-23). Jesus nos mostra que não é suficiente lançar a semente para que ela dê fruto. É imprescindível que esta semente caia em uma boa terra. O Senhor patenteia nesta parábola três obstáculos ao crescimento da palavra: a ausência do acolhimento desta palavra que permite ao inimigo roubar a semente e as preocupações mundanas e as seduções da riqueza que sufocam esta semente. Quando a fé é anunciada aos homens de coração fechado, a palavra escapa em sua vida. O tesouro da fé fica exterior à vida das pessoas que não souberam ou não puderam se abrir à dimensão espiritual de sua humanidade. Elas ficam alheias às realidades espirituais. Os pássaros do céu não têm então nenhuma dificuldade em vir comer esta semente da qual eles não souberam se alimentar eles mesmos. O homem não É, antes de todo um mamífero, nem somente um mamífero espiritual. É um ser espiritual criado à imagem e semelhança de Deus e cuja vocação fundamental é de se abrir à esta relação espiritual. Nós sabemos ter uma justa compaixão para com as pessoas que sofrem de um handicap, de uma desvantagem física ou intelectual, mas sabemos nós também medir a maneira com a qual nossa sociedade fabrica numerosas desvantagens espirituais para a ruina dos valores humanos, o materialismo. Quando o coração da pessoa que escuta a Palavra não está fechada, ela pode então acolher com alegria esta palavra. Isto, porém, não é suficiente, é preciso que esta palavra se enraíze por um trabalho de lavoura profunda, do solo retirar as más pedra que impedem o desenvolvimento das raízes. Ter fé, receber a palavra e isso nos exige lhe oferecer as melhores condições de crescimento. A primeira etapa desse trabalho é de reconhecer que nosso coração pede uma conversão, retirada de pedras, para permitir à palavra tomar raiz nos nossos corações. O pior é, além disto, para um cristão não ter consciência deste trabalho de conversão a se efetuar na sua vida, de não perceber o que lhe resulta da má terra e das pedras a serem tiradas. O importante é um bom exame de consciência, sincero, completo, exato. Enfim, sua fé é ela ainda viva e isto deve ser bem explorado. Nenhum de nós sabe amar com a profundeza necessária do Amor mesmo de Deus e, por isto, cumpre sempre progredir espiritualmente. Ao lado deste trabalho e de esforço para melhorar a terra de acolhimento da Palavra, do Evangelho, é preciso prestar atenção àquilo que pode do exterior impedir o crescimento da semente. Atenção às más ervas que podem predominar sobre a boa planta. Este trabalho de limpeza é um esforço de vigilância e de fidelidade como o sabem os bons jardineiros. É um trabalho contínuo, semanal, persistente. O cristão se torna cada dia mais perfeito pelas escolhas e pelos atos que são postos de acordo com a fé de cada um. A parábola deste dia sublinha, portanto, que ser discípulo de Jesus é entrar em uma relação de vida com o senhor que tem suas exigências. Exigência que exige um trabalho de abertura de si para acolher a Palavra, num aprimoramento de nossa vida, para permitir à Palavra tomar raiz. Vigilância e fidelidade para não deixar que a más ervas prejudiquem a boa semente. Nós devemos nos libertar daquilo que há de mal em nós, do orgulho, para que possa surgir em nós o homem novo criado à imagem e à semelhança de Deus. Este trabalho tem uma dimensão dolorosa porque é um trabalho de purificação do pecado que está enraizado em nós. É de se notar que a Palavra poderosa do Senhor age em nossas vidas e a transforma na medida em que temos disponibilidade à ação do Espírito Santo. Cumpre então saber que não é Deus que tarda em estabelecer seu reino no mundo e em nós. É antes de tudo nós que somos dispostos a uma abertura às graças do Espírito Santo em nossos corações. Entretanto cumpre estar ciente que Deus é nosso Pai, um Deus paciente e generoso que não cessa de nos cumular das graças das quais temos necessidade e Ele nos acompanha em nosso ritmo neste trabalho espiritual. O Senhor sabe bem que o coração do homem é complicado, mas Ele é também o melhor médico para cada um de nós. A lentidão com a qual a Palavra de Deus se enraíza e se desenvolve em nosso coração não deve nos transtornar, mas ser também ação de graças pela paciência de Deus para cada um de nós. Depois do dia de nosso batismo a Palavra semeada em nossos corações deve mover nossa vida espiritual, nosso jardim interior e que nós nos entreguemos a um trabalho perseverante para que um dia possamos oferecer a Deus belos frutos. Tudo depende da escuta existencial da Palavra do Pai, do dom de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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