quinta-feira, 20 de julho de 2023
28 O JOIO E O TRIGO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Há joio no campo do Senhor. Não foi Jesus que o semeou, porque Ele, o Filho de Deus, veio para unicamente semear a Palavra do Reino de divino e Ele explicou que foi um inimigo que fez isto. Isto foi obra do maligno que é astucioso, insidioso. É que os trabalhadores dormiam. Eles tinham motivo para repousar, mas deveriam ter estabelecido um sábio revezamento, para uma vigilância possível. Esta precaução era necessária dado que o mal é rápido quando se trata de o semear. Jesus sublinhou igualmente que o inimigo semeou o joio no meio do trigo e desapareceu, sabendo bem que seu mau grão cresceria sem ele, graças à boa terra preparada para o bom grão. O inconveniente com a má erva era que com o passar dos dias ela semelharia com o bom trigo e era impossível reconhecer o joio com certeza absoluta. Do mesmo modo na terra de nosso coração, quando nós deixamos o inimigo semear seus grãos de desgraça, como a desunião, o egoísmo ou a tristeza e outros males. É após um certo tempo que se constata o desastre e se lamenta que “meu campo está cheio de joio; meu coração que quer ser fiel a Jesus, se encontra dividido e apresenta simultaneamente frutos para a vida e germes de morte”. Então qual é o remédio? Os servidores na parábola vão então até o mestre do campo, com toda sua boa vontade, mas também com ilusões, e dizem “Quereis que nós vamos arrancar o joio”? É que este joio já havia produzido seus espinhos e já se podia reconhecê-lo. Diz o proprietário: “isto não, porque arrancando o joio se poderia arrancar o trigo com ele”. É lamentável que se encontre joio no nosso coração, nos grupos cristãos, nas nossas comunidades, mas o que é preciso é salvar antes de tudo e sobretudo o trigo que vai alimentar os homens, o crescimento do Evangelho em nossa vida, a expansão missionária da Igreja onde todos os povos encontrarão a salvação. Se para eliminar o joio é preciso arrancar o bom grão, melhor é ter paciência até a colheita; se para extirpar o mal é necessário comprometer os frutos do bem, melhor é deixar Deus fazer a triagem na Sua hora, Ele eu tudo conhece. “Deixai uma e outra semente crescer até a colheita”, diz Jesus. Poderia isto ser julgado uma atitude incoerente, tal o desejo de se viver num mundo puro, numa Igreja unida, numa comunidade ardente e unanime, Entretanto, é Jesus que tem razão. Isto porque Deus, sendo paciente até o julgamento, paciente com cada um de nós, sem destruir em nós as forças de vida para arrancar imediatamente o mal de nosso coração, Ele nos concede o tempo da conversão. Deus se reserva o julgamento, que Jesus descreve frequentemente no Evangelho como um momento da verdade, quando será revelado o íntimo dos corações e o valor real de cada existência. Deixemos a Deus a última palavra e guardemos a paz. O mal não ganhará nunca, nem no nosso coração, nem no mundo, se nós entregamos tudo a Deus. Jesus disse: “Tende confiança eu venci o mundo”” (Jo 16,33). O joio cresce e é frequentemente um escândalo, mas nós não temos para o combater em nós e em redor de nós, senão as armas do Evangelho, os instrumentos do grande Semeador. Jesus se estregou por causa de nossos pecados. Para impedir a expansão do joio no campo do mundo, Ele ofereceu a Deus sua vida dada aos homens e sua obediência. Ele semeia para o seu celeiro eterno a Palavra que salva, ilumina e é perene A semente boa é a palavra de Deus transmitida pelo sacerdote quando fala em nome de Cristo na cátedra sagrada, no confessionário ou nos instantes de aconselhamento espiritual. Nestes momentos Cristo se torna a luz para as inteligências, Ele que na Eucaristia é o alimento das almas. Esta palavra está contida na Bíblia Sagrada, a carta magna do Criador aos homens. Aí Deus diz ao ser racional quem Ele é e o que espera de cada um. É o grande dom divino de valor inestimável. A leitura assídua da Bíblia orienta, modifica o coração, esclarece a inteligência, sustenta toda vida do cristão. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
AÇÕES ADMIRÁVEIS DE JESUS (MC 1, 29-39
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma atividade admirável de Jesus no serviço dos doentes e possuídos do demônio, depois uma longa e ardente prece individual, Eis aí o ritmo do Filho de Deus. É assim que Ele vive intensamente sua união com o Pai que o enviou e sua solidariedade com os homens que Ele veio salvar, Autenticamente homem quando está só diante de Deus, realmente Filho de Deus quando se mistura na multidão dos homens. Em tudo semelhante a seus irmãos e, ao mesmo tempo, acreditado junto de Deus” (Hb2,1). É o mesmo Jesus de Nazaré que se retira muito cedo bem e pela manhã num lugar deserto ao despertar da aurora, para acolher voltado para Deus, a luz de um novo dia, e que amplia cada dia o campo de sua missão e de seu testemunho: “Vamos a outros lugares para que lá também se dê o anúncio da mensagem!”. É porque se entrega totalmente ao Pai na sua prece silenciosa que Jesus se deixa levar por todos aqueles e aquelas que O procuram. É porque Ele vive no Pai que Ele pode sem interrupção ir a outros lugares cada dia. Na medida em que cresce nossa união com Cristo vivo é que Ele remodela nossa vida e nosso coração. segundo esta dupla comunhão que Ele possui, a expressão espontânea de seu ser de mediador com o Pai e a comunhão com os irmãos. Cada dia Ele nos mostra o Pai e nos manifesta seu Nome e seguindo-O entramos numa verdadeira prece filial, mãos abertas e o coração livre. Cada dia também ele nos desperta para o bem universal, segundo seu próprio cuidado da salvação dos homens. Na paz de Deus, no rumor do mundo nossa solidão como aquela de Cristo é solidão sonora, tudo em eco do silêncio de Deus, tudo isto em ressonância do mundo a salvar, É o mesmo Espírito que nos faz, a todo instante, que nos lancemos em prece e que reanima a chama dos carismas de nossa crisma, nos dando crescer como filhos e filhas da Igreja. Ligeiro, secreto, discreto é o apelo do Espírito. que nos identifica com Cristo orante e missionário. É a voz de um silencio mantido como aquele que percebeu Elias no Horeb, antes que Deus o enviasse à história dos homens, história da salvação, no trabalho da redenção, “Vamos a outros lugares” diz Jesus. É isto que cada um ouve cada dia no fundo de sua fé em Cristo. Vamos a outros lugares não sozinhos, pelo caminho do sonho, porque outros lugares são frequentemente uma tentação, mas outros lugares com Jesus, por toda parte onde Jesus vai para salvar numa missão universal que tem lugar por uma vida toda entregue ao Amor, nada apenas só para hoje. A cena começa na casa de sogra de Simão que está prisioneira por uma febre, A cena se estende a toda a cidade, ao deserto, às aldeias vizinhas e, finalmente a toda a Galileia. Jesus é aquele que sai, sai da sinagoga de Cafarnaum, depois sai da cidade para ir ao deserto, faz sair a febre da sogra de Simão, faz sair os doentes de suas casas e os espíritos maus desta humanidade da qual Ele revestiu a carne. Jesus que saiu de Deus nos convida a nos levantar e sair para irmos a outros lugares, a sairmos de nossas pequenas enfermidades, da doença de nossas ideias preconcebidas, de nosso pequeno mundo tão fechado. É por listo que Ele saiu para ir aos povoados vizinhos, para outras pessoas, para aqueles que estão longe, que se fecham, que estão na periferia de nossas cidades, de nossa sociedade, de nossa comunidade Tratasse da expansão espiritual, vamos com Ele, saímos de nossos círculos estreitos, levantemo-nos e partamos daqui para testemunhar ao mundo a imensa ternura de nosso Deus e sua compaixão por todos. Deus é maior do que nossas misérias, do que nossas fraquezas Com Ele tudo se pode. Jesus afirmará que sem Ele nada podemos fazer, o que significa que com Ele tudo é possível. A doença, o sofrimento e a alienação são males que entravam nossa humanidade, como acontecia com a sogra de Simão. Jesus nos convida a vencermos os males corporais e a entrar na alegria do bem que Ele nos pode fazer. A partir dos sinais que Ele nos oferece com sua presença, com sua sabedoria, com a onipotência de sua salvação Ele nos quer como mensageiros de sua redenção. Ele quer nos cobrir com seus dons para recebermos suas graças salvíficas, sendo por toda parte testemunhas das Boa Nova que Ele veio trazer a este mundo. Portanto, repleto de ensinamentos esta passagem de São Marcos, inoculando-nos tão preciosas mensagens que cumpre sejam vividas intensamente na nossa vida diária. Estendendo, assim, por toda parte os benefícios de Deus. Apalavra divina pregada onde estamos, mas também por toda parte tanto quanto nos é possível. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 3 de julho de 2023
O SEMEADOR SAIU A SEMEAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O semeador saiu para lançar a semente. O semeador é Jesus, a semente é sua palavra, seu Evangelho e a terra que recebe esta semente é coração do homem, o coração de cada um de nós. (Mt 13,1-23). Jesus nos mostra que não é suficiente lançar a semente para que ela dê fruto. É imprescindível que esta semente caia em uma boa terra. O Senhor patenteia nesta parábola três obstáculos ao crescimento da palavra: a ausência do acolhimento desta palavra que permite ao inimigo roubar a semente e as preocupações mundanas e as seduções da riqueza que sufocam esta semente. Quando a fé é anunciada aos homens de coração fechado, a palavra escapa em sua vida. O tesouro da fé fica exterior à vida das pessoas que não souberam ou não puderam se abrir à dimensão espiritual de sua humanidade. Elas ficam alheias às realidades espirituais. Os pássaros do céu não têm então nenhuma dificuldade em vir comer esta semente da qual eles não souberam se alimentar eles mesmos. O homem não É, antes de todo um mamífero, nem somente um mamífero espiritual. É um ser espiritual criado à imagem e semelhança de Deus e cuja vocação fundamental é de se abrir à esta relação espiritual. Nós sabemos ter uma justa compaixão para com as pessoas que sofrem de um handicap, de uma desvantagem física ou intelectual, mas sabemos nós também medir a maneira com a qual nossa sociedade fabrica numerosas desvantagens espirituais para a ruina dos valores humanos, o materialismo. Quando o coração da pessoa que escuta a Palavra não está fechada, ela pode então acolher com alegria esta palavra. Isto, porém, não é suficiente, é preciso que esta palavra se enraíze por um trabalho de lavoura profunda, do solo retirar as más pedra que impedem o desenvolvimento das raízes. Ter fé, receber a palavra e isso nos exige lhe oferecer as melhores condições de crescimento. A primeira etapa desse trabalho é de reconhecer que nosso coração pede uma conversão, retirada de pedras, para permitir à palavra tomar raiz nos nossos corações. O pior é, além disto, para um cristão não ter consciência deste trabalho de conversão a se efetuar na sua vida, de não perceber o que lhe resulta da má terra e das pedras a serem tiradas. O importante é um bom exame de consciência, sincero, completo, exato. Enfim, sua fé é ela ainda viva e isto deve ser bem explorado. Nenhum de nós sabe amar com a profundeza necessária do Amor mesmo de Deus e, por isto, cumpre sempre progredir espiritualmente. Ao lado deste trabalho e de esforço para melhorar a terra de acolhimento da Palavra, do Evangelho, é preciso prestar atenção àquilo que pode do exterior impedir o crescimento da semente. Atenção às más ervas que podem predominar sobre a boa planta. Este trabalho de limpeza é um esforço de vigilância e de fidelidade como o sabem os bons jardineiros. É um trabalho contínuo, semanal, persistente. O cristão se torna cada dia mais perfeito pelas escolhas e pelos atos que são postos de acordo com a fé de cada um. A parábola deste dia sublinha, portanto, que ser discípulo de Jesus é entrar em uma relação de vida com o senhor que tem suas exigências. Exigência que exige um trabalho de abertura de si para acolher a Palavra, num aprimoramento de nossa vida, para permitir à Palavra tomar raiz. Vigilância e fidelidade para não deixar que a más ervas prejudiquem a boa semente. Nós devemos nos libertar daquilo que há de mal em nós, do orgulho, para que possa surgir em nós o homem novo criado à imagem e à semelhança de Deus. Este trabalho tem uma dimensão dolorosa porque é um trabalho de purificação do pecado que está enraizado em nós. É de se notar que a Palavra poderosa do Senhor age em nossas vidas e a transforma na medida em que temos disponibilidade à ação do Espírito Santo. Cumpre então saber que não é Deus que tarda em estabelecer seu reino no mundo e em nós. É antes de tudo nós que somos dispostos a uma abertura às graças do Espírito Santo em nossos corações. Entretanto cumpre estar ciente que Deus é nosso Pai, um Deus paciente e generoso que não cessa de nos cumular das graças das quais temos necessidade e Ele nos acompanha em nosso ritmo neste trabalho espiritual. O Senhor sabe bem que o coração do homem é complicado, mas Ele é também o melhor médico para cada um de nós. A lentidão com a qual a Palavra de Deus se enraíza e se desenvolve em nosso coração não deve nos transtornar, mas ser também ação de graças pela paciência de Deus para cada um de nós. Depois do dia de nosso batismo a Palavra semeada em nossos corações deve mover nossa vida espiritual, nosso jardim interior e que nós nos entreguemos a um trabalho perseverante para que um dia possamos oferecer a Deus belos frutos. Tudo depende da escuta existencial da Palavra do Pai, do dom de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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