A
ASCENÇÃO DO SENHOR
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus
parte para junto do Pai, mas esta comemoração enche os cristãos de alegria
porque Ele a todos precede na entrada do santuário do céu. Júbilo também porque
Ele chama a todos a serem por toda parte suas testemunhas. Ele, além do mais,
prometera revestir seus seguidores da força do alto, enviando o Espírito Santo.
Alimentou a esperança cristã para que se viva em ascensões espirituais
contínuas a fim de estar com Ele por toda a eternidade (Lc 24,46-53). Abre-se
um horizonte luminoso dando um sentido profundo à vida de seu seguidor fiel. A
Ascensão é uma ocasião para cada um se reconsiderar em todos os momentos. A
existência do fiel tem um final feliz, garantido por aquele que parte, mas que
se revela com outra presença, uma relação mais espiritual porque firmada num fé
profunda neste poderoso Salvador. Este estará no final da vida de cada um lá na
outra margem da vida para introduzi-lo nas delícias eternas da Casa do Pai.
Fica vencida a fragilidade humana, pois o seguidor de Cristo tem por obrigação
testemunhá-lo onde quer que esteja, correspondendo à salvação que Ele a todos
oferece. A Ascensão de Jesus é, de fato, nossa vitória. Através dele nossa
pobre humanidade foi introduzida no paraíso celeste, onde Ele está como nosso
intercessor junto do Pai. Esta poderosa mediação é fonte perene de graças para
todos. Deste modo, a Ascensão é a consumação do processo de nossa salvação
eterna. Ele volta para junto do Pai levando consigo a humanidade, abrindo a porta
do céu a todos que O acolherem e O amarem nesta terra. Ele tomou nossa condição
de escravos do espírito do mal, fazendo-se semelhante aos homens, para
comunicar-lhes a vida divina por meio de seu sangue redentor. São Paulo então
concita a todos os fiéis a proclamar que Ele “é o Senhor para a glória de Deus
Pai” (Fl 2,11). Ele se revelou a nós pela sua encarnação, mostrando nosso
destino final pela sua Ascensão. Os
cristão então não ficam meramente estupefatos diante da obra divina, mas,
rendem continuamente graça, louvam o seu Senhor com uma vida inteiramente
conformada com seus ensinamentos. Ele passou
corporalmente a uma outra
dimensão da realidade onde a morte e as degradações não têm mais poder.
Pela fé o seu seguidor vive em função desta realidade espiritual não se ligando
às coisas materiais de um mundo tantas vezes oposto ao que Ele preceituou. Por
tudo isto se compreende que a Ascenção de Jesus não foi, realmente, uma
partida, nem uma separação de seus discípulos e de sua Igreja. Jesus permanece
no meio de seus fiéis na Eucaristia e através das iluminações contínuas do
Espírito divino. São Paulo atestou que
“ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão no Espírito Santo” (1Cor 12,3).
Portanto, o cristão tem todas as possibilidades de não aderir às forças do mal.
Deus está sempre junto de cada um para que possa viver melhor, superando os
problemas do presente exílio. Com Jesus e o Espírito Santo o seguidor de Cristo
recebe sempre a energia espiritual que o permite enxergar por entre os sofrimentos
a beatitude do céu. É deste modo que se entra na dimensão da Ascensão. Trata-se
de participar desde agora na construção de um mundo que faz da esperança sua
regra de vida e que comunica a coragem de praticar as virtudes, sendo o motor
para uma busca contínua da santidade, tornando o mundo cada vez melhor. Assim
sendo, o cristão nunca se sente só,
abandonado nas dificuldades do cotidiano, errante sem ter um rumo certo no
final de suas lutas terrenas. A mensagem que a Ascensão lança no íntimo de cada
coração é um apelo a uma crença profunda na vida eterna já iniciada nesta
terra. Esta é a herança feliz de todo aquele que crê. O cristão se sente então
revestido de um notável vigor espiritual, olhos fixos no seu Redentor, numa
disponibilidade total para receber e viver as luzes do Espírito Santo. Cumpre,
portanto, valorizar a vida que Deus concede. Tal a felicidade do verdadeiro
cristão que então sabe apreciar sua existência, dado que lá no céu Jesus está à
sua espera. É preciso, porem, a vivência plena da influência de Cristo
vitorioso pelo poder do Espírito Santo, enviado de junto do Pai. Uma existência
que leva a vencer todos os torpores, todos os medos, todas as fadigas. Jesus
quer que vivamos com Ele. Assim todas as doenças, todas as preocupações, todos
os cuidados materiais, todas as relações familiares serão iluminados por Ele,
Por tudo isto a solenidade da Ascensão é, de fato, uma festa da Igreja porque
leva os cristãos a confiar plenamente em Jesus, sabendo que sua ascensão ao céu
é a revelação da própria elevação de seu discípulo de acordo com o projeto do
Pai pelas luzes do Espírito Santo. Por tudo isso o seguidor de Cristo se torna
o arauto da misericórdia divina. Mostra-se consciente de que, após sua
trajetória neste mundo, estará para sempre com seu Salvador lá onde Ele está a
espera de cada um. *Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos